E se eu lhe dissesse que o tipo de alimentação indicada para ajudar a chegar aos 100 anos, não inclui comer super alimentos importados ou seguir a última dieta da moda, mas sim, consumir alimentos locais, frescos e sazonais que são facilmente encontrados no seu mercado local?
As escolhas alimentares das pessoas que chegam aos 100 anos podem variar muito, dependendo de fatores como cultura, preferências pessoais e condições de saúde. No entanto, existem alguns padrões alimentares comuns que parecem ser benéficos para a longevidade. A dieta dos centenários foi estudada pelo pesquisador Dan Buettner e publicada no livro "Blue Zones: Lessons for Living Longer From the People Who've Lived the Longest”. O livro é baseado numa pesquisa que Buettner conduziu para descobrir as regiões do mundo com a maior concentração de pessoas que vivem mais de 100 anos. Essas regiões foram chamadas de "Zonas Azuis". No geral, a dieta das pessoas dessas zonas é caracterizada por alimentos nutritivos e frescos, com pouco ou nenhum alimento processado.
Além disso, essas pessoas também têm o hábito de fazer refeições em família e com amigos, e de se alimentar com moderação, sem exagerar nas porções. Note que a dieta saudável é apenas um dos fatores que contribuem para a longevidade dessas pessoas, outros fatores incluem as relações sociais, atividade física regular e sono adequado.
As Zonas Azuis incluem a ilha de Okinawa, no Japão, a ilha de Ikaria, na Grécia, a região de Nicoya, na Costa Rica, a região da Sardenha na Itália e Loma Linda na Califórnia. Analisando a dieta dos centenários na Sardenha, que dos países que fazem parte das zonas azuis, é o mais próximo de Portugal, algumas das características são:
Vegetais frescos: os idosos da Sardenha consomem uma grande quantidade de vegetais frescos, como alcachofras, abobrinhas, tomates, beringelas e cebolas. Muitas dessas hortaliças são cultivadas localmente e sazonalmente.
Grãos integrais: grãos integrais, como trigo, cevada e aveia, são frequentemente consumidos na forma de pão, massa ou outras preparações.
Queijo de cabra: o queijo de cabra é uma fonte importante de proteína para os idosos da Sardenha, e é geralmente consumido em pequenas quantidades.
Vinho tinto: o consumo moderado de vinho tinto, especialmente durante as refeições, é uma prática comum entre os idosos da Sardenha. O vinho tinto é rico em antioxidantes e pode ter benefícios para a saúde do coração.
Frutas frescas: frutas como laranjas, limões, uvas, maçãs, peras e figos são consumidos regularmente pelos idosos da Sardenha. As frutas são geralmente consumidas na forma fresca ou seca, e são ricas em antioxidantes e outros nutrientes importantes.
Legumes: feijões e lentilhas são uma parte importante da dieta, fornecendo proteínas, fibras e outros nutrientes importantes.
Frutos do mar: peixes, mariscos e crustáceos frescos são consumidos regularmente, fornecendo proteínas e gorduras saudáveis.
Portugal, infelizmente, parece estar a afastar-se cada vez mais desse padrão de dieta. E uma das formas está relacionada com o aumento do consumo da carne ao longo dos anos. Tradicionalmente, a dieta portuguesa era baseada em alimentos frescos e minimamente processados, como frutas, vegetais, grãos, legumes, peixes e marisco. No entanto, com o passar do tempo, a população portuguesa começou a consumir mais carne, especialmente carnes vermelhas, como o porco e a carne bovina. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal, o consumo de carne vermelha no país aumentou cerca de 50% entre 1960 e 2018, passando de uma média de 19 kg por pessoa por ano para 29 kg por pessoa por ano. Isso pode ser atribuído em parte ao aumento do poder de compra da população e à disponibilidade de carne a preços mais acessíveis. No entanto, o consumo excessivo de carne vermelha não tem sido associado a chegar aos 100 anos, mas sim a riscos de saúde, como doenças cardíacas, cancro e diabetes. Outra das formas para se afastar de uma dieta saudável é o aumento do consumo de produtos industrializados.
A verdade é que comer de forma saudável e, consequentemente, contribuir para a longevidade pode ser mais simples do que muitas pessoas imaginam. Um dos problemas é que vivemos na era do terrorismo nutricional e frequentemente somos bombardeados com informações sobre um novo super alimento, uma nova dieta milagrosa e que certos alimentos são tóxicos, cancerígenos ou prejudiciais à saúde, mesmo quando não há evidências científicas sólidas para apoiar tais alegações. Isso gera uma cultura de medo e incerteza em relação à alimentação, o que pode levar a um maior stress e ansiedade em relação à escolha dos alimentos, stress este que definitivamente não contribui para a longevidade. Com um pouco de planeamento e conhecimento, qualquer pessoa pode adotar hábitos alimentares saudáveis e desfrutar dos benefícios para a saúde que eles trazem.
Por: Michelle Bond, Naturopata e proprietária da Clínica Michelle Bond.
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